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Por: Gutemberg Stolze
16/10/2015 - 11:31:18
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Andre Holland é o médico Algernon Edwards na série

No início do século 20, um negro ser médico era inadmissível para grande parte da sociedade ocidental – e lidar com o preconceito é o principal desafio do Drº Algernon Edwards na série médica de época "The Knick", cuja segunda temporada estreia nesta sexta-feira (16) no canal pago MAX. Quase um século depois, o racismo permanece um problema, inclusive na indústria do entretenimento. Intérprete do médico, o ator Andre Holland afirmou que se identifica com os problemas de seu personagem e que ainda há discriminação em Hollywood.

"Meu personagem me lembra de coisas da minha vida que eu sabia, mas talvez houvesse esquecido", disse o ator, que também atuou em "Selma", em conversa com jornalistas na Cidade do México. "Hollywood não é tão diferente da vida no Knick (apelido do Knickerboxer, hospital de Nova York que dá nome à série). É um grande jogo político, não é justo. Eu pensava que era justo, pensei que se você fizesse um bom trabalho, se esforçasse, você teria a sua chance. Mas não funciona assim".

Ainda que não sinta o preconceito de forma tão explícita quanto seu personagem, Holland diz que recebe menos convites e é menos considerado para protagonistas do que seus colegas brancos. "Dizem que é importante ter treinamento para ser um bom ator. Então há pessoas como eu que passam quatro anos na faculdade, mais três na pós, um em Londres aprendendo Shakeaspeare. Você faz tudo isso, mas há esses testes, e pessoas que não fizeram nenhum treinamento estão sendo consideradas para os papéis principais e eu estou sendo considerado para o papel do cara que diz "a escada é para aquele lado", ou do amigo de alguém. É uma sensação de que as pessoas não te veem como capaz de estar no centro, só na periferia".

Um mês após o Emmy ter premiado pela primeira vez uma negra como melhor atriz de série dramática, Viola Davis, por "How to Get Away with Murder", o ator disse acreditar que a representação de negros e outras minorias na TV está melhorando, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. "Eu sei que há vários atores lá fora, não só negros, mas também asiáticos, latinos, que não têm oportunidade. Eles têm o talento, mas os papéis não existem. Ou as pessoas pensam "não podemos escalar o latino como o protagonista porque as pessoas não irão ver, tem que ser um cara alto e branco". O que é uma completa bobagem, porque nós provamos várias e várias vezes que somos capazes de fazer qualquer coisa. Está melhorando, mas ainda temos muito a percorrer".

A segunda temporada

Cirurgião da equipe chefiada por John Thackery (Clive Owen), Algernon Edwards enfrentou muitas dificuldades durante sua chegada ao hospital, mas a situação não deve melhorar na nova temporada. Segundo Holland, Edwards irá perceber que o racismo é uma questão social e verá um de seus colegas se juntar a movimentos que pregam a eugenia.

"Ele luta muito para descobrir como resolver isso por si só, mas não consegue, ele não tem ninguém para ajudá-lo", conta o ator. "Eu fico emocionado, porque é muito real para mim. Ele é um cara brilhante, capaz, merecedor, e ele quer, mas não vai conseguir. Você olha para a história, só Deus sabe quantos Beethovens, Stravinskys e Picassos foram perdidos para essas circunstâncias. Acho que ele é uma das pessoas que poderiam realmente fazer a diferenças e mudar o mundo, mas infelizmente o mundo não estava pronto para ele – o que não significa que ele não continuará lutando".

Dirigida pelo cineasta Steven Soderbergh "Traffic", "The Knick" toca em outros temas espinhosos, como aborto, machismo e acesso à saúde, o que é uma das qualidades da série para Holland. "Acho que as pessoas querem ver histórias que refletem suas vidas reais. Às vezes, fingimos que essas coisas não são importante, queremos colocar embaixo do tapete e fingir que eles não existem. Mas elas são importantes para muitas pessoas. Então séries como "The Knick" fazem um bom trabalho ao pegar o assunto e transformá-lo em algo que as pessoas podem digerir".

As cenas mais difíceis da série para o ator, porém, são as dos procedimentos médicos. "Primeiro, porque você diz todas essas palavras que nunca ouviu antes. Depois, tem que costurar as pessoas, já com todo aquele sangue envolvido, e há uma galeria de figurantes assistindo tudo. Você ensaia e ensaia, mas quando começa a cena, pensa "meu Deus". É cinquenta vezes maior do que você imaginava. O sangue deixava você meio enojado no começo, mas depois você se acostumava e ele se tornava só uma parte daquilo. O mais difícil é estar no controle quando, por dentro, você sente que há tantas coisas acontecendo".

 

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